"Uma fileira de frasquinhos de temperos: manjericão, orégãos, cravinho, cominhos, noz-moscada, pimentas, piri-piri, louro, paprika. Rolhados, tristes de tanta inutilização, ali a carpirem mágoas juntamente com os pratos do armário, vizinhos de cima no prédio dos aborrecimentos.
Ela entupia as amigas com as suas desculpas e incapacidade para cozinhar, que não dava, que as mulheres, hoje, devem despir-se dessa responsabilidade culinária, castradora de emancipações, que no tempo da avó é que os homens se conquistavam pelo estômago. Nunca percebera, porém, que aos homens, tal como às mulheres, se acede pela inteligência, pela sensibilidade e pela beleza, nem sempre por esta ordem, porém eternamente com este conteúdo.
A amiga, num dia em que foi almoçar lá a casa, ao cortar a película de plástico que cobria a tampa dos orégãos para dar sabor e cor à omeleta, tentou fazer-lhe ver que cozinhar não é de homem ou mulher, é de Homem, de espécie. Explicou-lhe que não ter mão para o sal é uma coisa, contudo ignorar que um bife precisa de sal é outra; que não saber usar uma gordura ou não perceber o funcionamento básico dos grelhados, fritos e cozidos ultrapassa pela direita o talento culinário e entra à má fila no cruzamento e no domínio da perspicácia. Grelhar, lembrou, é das mais básicas acções humanas, pré-histórica: pegar em carne crua e deixá-la queimar-se. (...) "
o resto em http://numdiadestes.blogspot.com/
Ela entupia as amigas com as suas desculpas e incapacidade para cozinhar, que não dava, que as mulheres, hoje, devem despir-se dessa responsabilidade culinária, castradora de emancipações, que no tempo da avó é que os homens se conquistavam pelo estômago. Nunca percebera, porém, que aos homens, tal como às mulheres, se acede pela inteligência, pela sensibilidade e pela beleza, nem sempre por esta ordem, porém eternamente com este conteúdo.
A amiga, num dia em que foi almoçar lá a casa, ao cortar a película de plástico que cobria a tampa dos orégãos para dar sabor e cor à omeleta, tentou fazer-lhe ver que cozinhar não é de homem ou mulher, é de Homem, de espécie. Explicou-lhe que não ter mão para o sal é uma coisa, contudo ignorar que um bife precisa de sal é outra; que não saber usar uma gordura ou não perceber o funcionamento básico dos grelhados, fritos e cozidos ultrapassa pela direita o talento culinário e entra à má fila no cruzamento e no domínio da perspicácia. Grelhar, lembrou, é das mais básicas acções humanas, pré-histórica: pegar em carne crua e deixá-la queimar-se. (...) "
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