sexta-feira, novembro 23, 2007

Para uma aproximação ao corpo

às vezes olho-me no espelho e observo-me com atenção. Durante Bastante tempo fixo-me no rosto. Experimentem.

É uma face em mudança. Está sempre em mudança, esteve sempre em mudança e nunca vai parar. Pergunto-me como posso ter sido tantas pessoas.

Debatam-se frente a frente com a vossa cara. Quando o tentam, algo se passa. Passado um certo tempo a pessoa que está diante de vós ganha um carácter exterior. Como uma palavra repetida muitas vezes, principia assim a perda do seu sentido e significado e o princípio da separação entre palavra enquanto grafia, som, e enquanto significado. Ou nas palavras de Saussure, a separação entre Significado e Significante. Experimentem com a palavra amor. Não não não. Experimentem com Cano. Não queiram perder o amor. para já. terão muitas oportunidades futuramente. experimentemos com a palavra cano. Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano Cano cano. e...já não é Cano. passa a ser uma sequência de sons. ca-no. Um ritmo de fonemas. uma amálgama em passagem. Também nós passamos a ser cano após muito tempo de observação. e separamos o cano da água (o trigo do joio?). E é fascinante que o consigamos ser para nós próprios. É um caminho de instrospecção. Quem é então aquele que está no espelho diante do nós ? Pela primeira vez afigura-se o eu como exterior. Podemos então passar a fazer dele o que quisermos. mas desta vez na terceira pessoa. Como o jardel (ver declarações fim de jogo anos 90:"O jardel esteve bem. Fez gol"),esse existencialista, na linha de sartre ou beauvoir mas muito mais eficaz no último terço de terreno. Assim, poderíamos avançar para um principio de teorização do porquê do pouco número de passes de certos número de jogadores e respectivo fuçanço (!), ou do individualismo notório no meio da colectividade feliz: é que quando o jogador segue com a bola passando um e outro e tentando ainda mais uma última finta, é com ele que ele joga, é com o seu eu, é um jogo colectivo muito pessoal. Sem passes falhados, reclamações ou triangulações erradas.

Jardel com o seu Eu era feliz.

2 comentários:

macciato disse...

desculpa, mas o teu post fez-me lembrar...
o corpo de quem parte é apenas um cano...não pode ser confundido com a água que antes lá passou...

macciato disse...

Reparei reparei...
o subtítulo mudou...