terça-feira, setembro 18, 2007

iscolari

"Depois de ver Luiz Felipe Scolari soltar aquele tabefe no último jogo da selecção, dei por mim a pensar: mas será que se ele se desentendesse com o sérvio não num campo de futebol mas, digamos, numa pastelaria, por causa de uma queijada de Sintra, ou na secção de congelados do supermercado, por causa da última caixa de medalhões de pescada, seria assim tão lesto a levantar a mão? O senhor Ivica Dragutinovic - só o nome mete medo - mede 1,85 metros, pesa 84 quilos e tem cara de ter participado no cerco de Sarajevo. Não me cheira que Scolari, que não é parvo, se lembrasse de esmurrar fora dos relvados um tipo com metade da sua idade e o dobro do seu tamanho. E é por isso que o seleccionador devia ter vergonha não só pelo que fez mas pelas desculpas que arranjou. Porque, na verdade, não foi Scolari quem protegeu Quaresma, como até hoje ele continua a insistir. Foi Quaresma e a restante selecção que protegeram as costas de Scolari, enquanto ele perdia a cabeça em Alvalade.

Talvez Scolari não merecesse ser corrido da selecção por causa daquilo, mas as desculpas que arranjou tanto no próprio dia como no dia seguinte, quando já tinha obrigação de estar com a cabeça fria, dizem muito quanto ao seu carácter "mata mata" e sobre o que anda a pregar nos balneários da selecção. Porque, de facto, Scolari pediu perdão sem pedir perdão, preferindo promover um discurso tribal do género "quando o lobo ataca o rebanho o pastor deve usar o cajado", querendo fazer-nos passar a todos por ovelhinhas. O certo é que a selecção portuguesa, pelo currículo da última meia dúzia de anos, já deve ser a mais indisciplinada do planeta, ao pé da qual o Uruguai faz figura de copinho de leite.

A sucessão de casos de violência não pode ser apenas uma coincidência - há um evidente desequilíbrio emocional na equipa e uma falta de fairplay que dá um bocadinho mau aspecto. E não falo de jogadores fervorosos, que gostam de entrar às canelas do adversário ou que se envolvem em escaramuças parvas. Falo de jogadores que agridem árbitros, de treinadores que agridem jogadores e até de miúdos que roubam cartões das mãos de árbitros, coisa que nunca na minha vida tinha visto. Portugal tem esta coisa: quando as expectativas são muito altas e a equipa não está à altura das expectativas, é tão provável haver confusão quanto encontrar neve no Pólo Norte. Que um treinador como Scolari venha agora contribuir para a galeria de horrores é incompreensível e lamentável. Eu cá não o despedia. Mas fechava-o com Dragutinovic no balneário - e não deixava o Quaresma entrar."

João Miguel Tavares
na crónica do DN

1 comentário:

macciato disse...

vê ainda no u tube o ricardo araujo pereira a falar sobre o mesmo tema...divina comédia!!!